10 fatos marcantes da ciência em 2024
Fizemos um top 10 dos temas que a gente julgou serem mais emblemáticos de 2024 para uma merecida retrospectiva
Bom dia! Aqui somos a Chloé Pinheiro e a Meghie Rodrigues em ritmo de festa esperando 2025 que finalmente está logo ali. Estamos todos, né, pessoal? Na edição de hoje, fizemos um top 10 dos temas que a gente julgou serem mais emblemáticos de 2024 para uma merecida retrospectiva. Na nota do convidado, a querida Luiza Caires fala dos desafios para a área da Saúde em 2025. Feliz ano novo!!
Nobel para a IA
A inteligência artificial foi reconhecida em 2 Prêmios Nobel. A láurea de Física foi entregue para cientistas que aperfeiçoaram as redes neurais, sistemas que tentam replicar o cérebro humano, que essa tecnologia utiliza. Já o prêmio da Química reconheceu pesquisas que usaram IA para estudar a estrutura de proteínas. As escolhas levantaram polêmica, é claro.
A “revanche” da cloroquina
Em outubro, um estudo ganhou destaque na imprensa brasileira (e nas redes de desinformação) por supostamente redimir a cloroquina. Só que ele não demonstrou os benefícios alardeados. Esse belo texto do André Bacchi e do Luiz Almeida explica os truques estatísticos adotados pelos autores.
O furacão Trump
Trump foi reeleito nos Estados Unidos. E o que isso tem a ver com o Polígono? Supostamente, seu secretário de saúde será Robert F. Kennedy Jr., um notório ativista antivacina. E não é só isso, ele defende a liberação do leite cru (que pode causar diversas doenças), a proibição do uso de flúor na água e outras pseudociências.
Indígenas na Science
Em dezembro, a prestigiada revista Science publicou, pela primeira vez, um artigo assinado por pesquisadores indígenas brasileiros. O texto ressalta a importância de integrar o conhecimento dos povos originários ao científico, em prol da preservação da biodiversidade e da própria ampliação do saber. Vale a leitura!
Queimando
Não é exagero dizer que todos sufocamos um pouco em 2024, um oferecimento das queimadas que aconteceram país afora. Os incêndios que acontecem todos os anos ganharam um empurrãozinho das mudanças climáticas, mas não dá pra chamar de obra da natureza. Quase 100% deles aconteceram por ação humana. A impunidade está correndo solta.
Afogados em plástico
Em 2024 não apenas sufocamos em fumaça, como afogamos em plástico (que, ao contrário do que venderam pra gente, é dificílimo de reciclar). O tratado que se esperava da quinta reunião da ONU sobre poluição plástica ainda não saiu. A decisão foi adiada para o ano que vem. E dá-lhe lobby da indústria de petróleo.
O ano mais quente (outra vez)
É recorde todo ano, né? Segundo o observatório climático europeu Copernicus, 2024 foi o mais quente já registrado (pelo menos desde que as medições começaram a ser feitas em 1850). E esse calor veio acompanhado de seca no Brasil, furacão nos Estados Unidos, enchentes no Rio Grande do Sul e na Espanha, só para citar alguns dos desastres mais emblemáticos que acompanhamos por aqui. E a previsão é rolar um “drill, baby drill” com a volta de Trump.
Vacina anti-dengue do Butantan
Agora em dezembro, tivemos uma notícia excelente saída dos laboratórios do Butantan: o instituto pediu o registro de uma vacina contra dengue à Anvisa. Se tudo der certo, vai ser a primeira em dose única no mundo, com distribuição prevista de 100 milhões de doses até 2027. Golaço da ciência brasileira! 🇧🇷
A morte do X entre cientistas
Neste ano, vimos uma migração em massa de cientistas e da comunidade de pesquisa internacional (especialmente nos EUA) do X, falecido Twitter, para o Bluesky, especialmente depois da eleição de Donald Trump (o X virou um canal de desinformação com anuência de seu próprio dono, Elon Musk). O movimento (que já havia sido antecipado no Brasil) melhorou a saúde mental de muita gente. Como serão as redes sociais em 2025? Muita gente aposta na saída destes espaços.
Sonda Parker
Em dezembro, tivemos um marco histórico na ciência: a Parker foi de fato o artefato humano a chegar mais próximo ao Sol. A sonda passou a 6 milhões de km da superfície solar e sobreviveu, enviando sinal de vida para a Nasa na madrugada de sexta-feira (27/12). 6 milhões de km parece longe, mas seria algo como 4 cm da superfície do Sol se a Terra e nossa estrela estivessem a 1 metro de distância. Que feito, meus amigos!
Você viu?
- Com certeza você ouviu alguma dessas na ceia de natal. 🌲
- Em 2025, continua estudo usando CAR-T contra leucemia e linfoma no Brasil.
- Poderemos ter vírus no enfrentamento de doenças bacterianas.
- Um zigzag de Einstein?
- O agro depende da Amazônia de pé.
- Qual o maior trambique em alergia/imunologia? 🤣
- Conhece as belugas, os “canários do mar"?
- Hospitais públicos de SP entre os melhores do mundo. ❤️
- Treta: corpo editorial do Journal of Human Evolution pede para sair por conta do uso de IA pela revista.
NOTA DA CONVIDADA ✷
Alguns desafios para nossa saúde em 2025
Por Luiza Caires, jornalista e editora de Ciências no Jornal da USP
Este ano vivemos sem a covid como emergência sanitária, o que não quer dizer que ela não preocupe mais. Também temos outras doenças infecciosas que devem ser foco de atenção - tanto “novas”, como a gripe aviária, quanto velhas conhecidas com quem ainda nos debatemos, como a dengue.
Mas e quanto às doenças não transmissíveis? Perguntei a um grande estudioso da saúde pública brasileira em qual deveríamos ficarmos de olho em 2025.
Eis o que me disse Paulo Lotufo, da USP: "Depende do ponto de chegada: se for em termos de custos ao SUS e ao indivíduo, a doença renal crônica. Se em termos de desigualdade social, o câncer de colo uterino - em mulheres pobres, nas grandes cidades e principalmente na Amazônia. E em termos de mortalidade geral, ainda o conjunto das cardiovasculares."
Mas vamos falar do câncer, que está em vias de superar inclusive as cardiovasculares em mortalidade no Brasil. O do colo do útero já é um dos que mais mata: mais de 6 mil brasileiras a cada ano.
Apesar de “não transmissível” após instalado, ele também tem origem infecciosa: o vírus HPV. É desolador saber que este câncer já poderia ser prevenido quase na totalidade, porque há vacina.
Mas falta adesão, esbarrando em ideias conservadoras enganosas como a de que a vacinação poderia acelerar o início da vida sexual dos jovens.
Outra ferramenta importante contra este câncer é o rastreio. Aqui o AM vai mal, chegando ao triplo da média nacional de casos - e o principal problema está no acesso ao sistema de saúde por comunidades distantes.
Muitas mulheres não fazem o exame; quando fazem, não voltam para saber o resultado. Assim, lesões que poderiam ser tratadas têm tempo para se tornar tumores avançados.
Faz pelo menos 500 mil anos que o HPV infectou os primeiros humanos, e temos tecnologias de saúde muito bem desenvolvidas para combatê-lo. Mas está claro que fazer com que ele pare de levar embora tantas mulheres – e também que outras doenças deixem de nos ameaçar – exige mais que apenas conhecimento científico.